Já parou pra pensar quais os sons do nosso cotidiano? Como eles interferem no nosso dia a dia?
Perguntas como essas foram o motim para que a professora Thaís Oliveira desenvolvesse a pesquisa “Performances sonoras: uma escuta do cotidiano goianiense”, dentro do doutorado do Programa Interdisciplinar em Performances Culturais (FSC/UFG) e sob orientação da Profª Dra. Sainy Veloso. Como complementação de sua tese, a pesquisadora realizou no dia 30 de novembro a instalação "Janela Sonora", que teve como espaço o Grande Hotel.
A produção artística é resultado da captura de sons da região urbana de Goiânia. A cidade foi dividida em quatro áreas de maior frequência dos habitantes e/ou locais exclusivos: Feira Hippie; Região da Pecuária de Goiânia; Estádio de Futebol Serra Dourada; Região Central de Goiânia. Durante o período de um ano de meio foram coletados ruídos sonoros nessas quatro regiões, totalizando mais de trinta horas de som gravadas em alta qualidade. São esses sons que compõem a instalação artística.
“Vilaaaaaa” grita um caminhante na Avenida Anhanguera fazendo referência ao seu time de coração. Som de feirantes da Feira Hippie, som de fritura de pastel, do vendedor de pamonha que anuncia a venda de seu produto em uma bicicleta, som de ambulantes vendendo chip para celulares e o som do caminhão de coleta seletiva. Todas essas marcas sonoras, entre tantas outras, fazem parte do projeto executado pela professora Thaís. Ao todo, 20 caixas de som emitiam, simultaneamente, as capturas de sons goianienses realizadas para a pesquisa.
O evento teve como objetivo um estudo sobre a recepção sonora na capital. “O som que nos habita é o som da nossa memória. Um som que surge a partir do cotidiano vivido e a partir da escuta dos sons a nossa volta, a partir dos quais somos capazes de pressentir recordações do passado e também de nos colocar no presente. Esperamos que o público possa desenvolver a partir da instalação, uma atitude de percepção mais atenciosa em relação à sonoridade que o cerca”, afirma Thaís Oliveira.
“A cidade é uma sinfonia composta por sons, ruídos e silêncios. É a manifestação significativa da vida urbana, de uma ação performática expressiva, sonora, de seus habitantes, na interação social, voluntária ou involuntariamente. O som preenche o cotidiano. Há tempos comecei a perceber todos os ruídos sonoros de meu dia a dia. O galo que canta no vizinho, os carros que passam pela rua, o grito do ambulante, o som do telefone que toca, a buzina da moto. Enfim, todos esses sons estão presentes em nossa geografia sonora”, explica Thaís.
De acordo com Thaís Oliveira, o intuito da proposta da instalação sonora era dar “voz” ao Grande Hotel, prédio histórico da cidade, que metaforicamente a partir das janelas estaria “falando” ruídos sonoros para quem passa em frente, ou seja, dando de certa forma visibilidade aos ruídos sonoros que geralmente, no cotidiano, passam despercebidos por nós.